Tomar decisão é uma tarefa inerente à posição de liderança, mas, quanto mais importante essas decisões são, mais receio os gestores têm de fazer a escolha errada. Na verdade, a tomada de decisão faz parte do dia a dia de todas as pessoas, mas não damos atenção a isso, diz Marcus Vinicius Martins, fundador do Instituto Brasileiro de Tomada de Decisão.

“Estima-se que tomamos cerca de 70 decisões por dia. Nós damos pouca importância ao processo de escolha e só percebemos essa necessidade na hora de tomar grandes decisões. Mas é nas pequenas que treinamos”, afirma.

Após 30 anos de carreira executiva, formação em coaching e estudo de neurociência, Martins desenvolveu e patenteou um método para tomada de decisão que considera questões técnicas e comportamentais. Seu método faz perguntas como “qual é o contexto da decisão?” e “qual é a variável mais relevante na solução?”.

Martins explica que há duas áreas do cérebro em que ocorre a tomada de decisão. “Uma delas privilegia a velocidade e a outra, o pensamento. A ideia é desenvolver habilidades para compatibilizar as duas coisas.”

A tomada de decisão no dia a dia de um executivo

No cargo de CFO (Chief Financial Officer) da Minerva Foods, Edison Ticle de Andrade Melo e Souza Filho toma decisões o tempo todo, e das complicadas: aquelas que envolvem dinheiro. Ele diz que segue alguns passos antes de fazer uma escolha:

Ser disciplinado com prazos;

Separar o que é urgente do que é importante;

Identificar as três principais variáveis;

Simular diferentes cenários e ponderar os riscos de cada um.

Apostar em sua sensibilidade também é uma de suas técnicas. “Nem sempre as decisões técnicas são as melhores. Intuição e experiência também contam muito”, reforça. Ele conta que desenvolveu essa habilidade ao longo da carreira, já que começou como traderem mesa de operações, onde tomava decisões o dia inteiro.

O timing é parte importante de um processo de tomada de decisão, pois há situações em que não decidir pode ser tão ou mais prejudicial do que fazer uma escolha errada. “Quando você decide algo, você sabe o racional por trás daquilo e consegue se justificar. É pior quando você não tem um plano estratégico”, declara o executivo.

A tomada de decisão na carreira

O exemplo dado por Filho se encaixa bem em situações em que a tomada de decisão envolve movimentação na carreira. Conforme Luiz Gustavo Mariano, sócio da FLOW, é preciso criar um ritual para mapear as evidências que levam o executivo a querer mudar de empresa. “Deve-se estabelecer um passo a passo para tomar a decisão de ir ou ficar de forma objetiva”, avalia.

Mariano ressalta que esta postura é importante, pois, em geral, quando um profissional comunica à empresa atual que está de saída porque recebeu uma nova proposta, a empresa tende a oferecer uma contraproposta para que ele fique. “É neste momento que o executivo precisa saber de forma clara o que o fez querer sair”, pontua o headhunter.

E completa: “É fundamental avaliar se os fatores de expulsão estão relacionados ao negócio, às pessoas/lideranças ou ao momento de vida e carreira do profissional. Se a decisão de sair estiver baseada em questões externas, o executivo já terá subsídios para negar a contraproposta”, expõe.

Quanto mais tomada de decisão melhor

Filho, da Minerva Foods, diz que um tomador de decisões não pode ser inseguro. “Não adianta nada ficar revisitando decisões erradas. Tem que partir para o próximo passo, consertar e olhar para a frente, aprender com os erros”, recomenda.

Mariano, da FLOW, corrobora ao afirmar que, com o tempo, os executivos tendem a aumentar o apetite para o risco, o que faz com que estejam cada vez mais preparados para tomada de decisão que envolve questões complexas do negócio. “Ao longo da vida, novas experiências contribuem para aumentar o repertório do profissional no que diz respeito a risco”.