Temos a tendência de agir instintivamente e, consequentemente, não damos o devido valor a aspectos técnicos que poderiam basear as nossas decisões
Imagine a seguinte situação. Você está visitando uma amiga. Ela diz que tem duas crianças. Suponha que cada vez que alguém tem uma criança, a probabilidade de ter uma menina é a mesma que a probabilidade de ter um menino (e que o fato de a mãe ter um menino ou uma menina na primeira vez não afeta as probabilidades envolvidas no segunda vez). A amiga te diz que pelo menos uma das crianças é uma menina. Qual é a probabilidade de que a outra criança também seja uma menina?
(Pense na resposta.)
Se você respondeu 50% ou pensou que por trás dessa pergunta tinha uma pegadinha, você provavelmente usa atalhos mentais para resolver esses problemas preditivos ou de avaliação. E esses atalhos que utiliza para resolver esse tipo de problema você provavelmente faz uso dessa mesma característica empírica para tomar decisões e fazer escolhas sobre negócios e sobre pessoas no dia a dia da sua organização.
Exemplos desse tipo de comportamento. Quem contrata por empatia, em uma demissão tende a agir por sintonia, já em uma promoção segue preferências pessoais, e no momento de distribuir bônus aufere performance de um jeito não tangível. E por aí vai.
Além disso, esse tipo de profissional geralmente não costuma ouvir os pares e/ou os subordinados na hora de desenhar um projeto; e insiste, sem muito estudo ou lógica, que a sua opinião é a melhor (e, já testemunhei casos em que um profissional não exerce o poder de veto e fica imóvel na hora de tomar uma decisão justamente para paralisar uma outra – é o típico movimento de pessoas não colaborativas que engessam uma empresa e fazem o grupo perder uma oportunidade que chega à mesa).
O israelense Daniel Kahneman ganhou um Nobel de economia em 2002 pelo seu trabalho com economia comportamental. Ele mostra como o homem muitas vezes age por instinto, pela emoção, independentemente de sua capacidade técnica e teórica. As ideias de Kahneman são muito aplicadas ao mercado financeiro (as pessoas têm uma propensão maior a levar em consideração as possibilidades de perda do que as chances de ganho), mas podem ser levadas ao ambiente corporativo. Temos a tendência de agir instintivamente e, consequentemente, não damos o devido valor a aspectos técnicos que poderiam basear as nossas decisões.
É preciso tomar cuidado e estar atento, porque todos nós temos vieses inconscientes poderosos que nos coíbem de construir algo melhor e, de fato, colaborar. Trabalho em equipe, buscar o crescimento da empresa e ter em mente um bom resultado: tudo isso exige autocontrole, desenvolver e aprofundar os temas importantes e, também, deixar o ego de lado e pensar com o cérebro.
PS: a resposta para a pergunta do início deste texto: a probabilidade do segundo filho ser uma menina é de um terço. Sabe explicar o porquê?