Quem atingiu um nível minimamente elevado na carreira que não seja homem, ou branco, pode se considerar herói.
Por Luiz Gustavo Mariano
Olá, o meu nome é Luiz Gustavo Mariano, e atuo no mercado de executive search (headhunter). Você sabe o que um headhunter faz? Ele vive de uma imperfeição que existe no ecossistema profissional de um mercado (ou de um país).

Essa imperfeição é a relação entre a demanda de instituições por profissionais qualificados e a capacidade desse ecossistema em formar um bom número de profissionais qualificados.

Tudo o que ocorre com uma empresa tem a ver com os seus funcionários –não existe a possibilidade de um projeto sair do papel sem alguém qualificado para fazer ele acontecer.

O ponto é que, para aproveitar várias oportunidades que surgem, as empresas muitas vezes não podem se dar ao luxo de promover alguém internamente – pode ser arriscado (leia-se: ter prejuízo) apostar em um profissional que não tem a experiência adequada para uma determinada função.

O desafio é sempre esse: construir uma estratégia empresarial que olha para a frente, em que os espaços que existam sejam ocupados por um grupo de líderes que consiga, de maneira eficaz, entregar aos resultados esperados, aproveitando a janela de oportunidade que se abriu.

Mas, como pode que, em um país com 230 milhões de habitantes e cerca de 14 milhões de desempregados (inclusive muitos executivos com grande experiência), existam vagas abertas ao ponto de ter de se contratar um headhunter especializado para encontrar alguém?

Tendo a questão da diversidade em mente, precisamos refletir para entender qual é o problema e, assim, definirmos as ações para conseguirmos formar novos líderes para o país – infelizmente, a questão não tem a ver apenas com a liderança.

Hoje, podemos dizer que aquelas pessoas que atingiram um nível minimamente elevado na carreira (seja no serviço público, no terceiro setor ou nas corporações) que não são homens, ou brancos são verdadeiros heróis.

Nós somos o que vivemos, o que experimentamos pela vida – nascemos como se fôssemos um chip vazio que, ao longo dos anos, vai recebendo cargas de informações que desenvolvem a nossa inteligência e as habilidades emocional e social.

Para liderar uma empresa, empreender, colocar no mercado um novo produto, um novo processo produtivo, romper com o status quo, mexer e engajar pessoas, seja no mundo corporativo ou em qualquer instituição, não se aprende ou se constrói essas habilidades da noite para o dia.

Vamos ao início: imagine uma criança que nasce no Brasil. Será que a sua família terá condições de replicar princípios e valores? Ou de fornecer o mínimo de suprimentos para a sua alimentação? De fazer com que a pequena criança absorva em seu chip as informações necessárias para se desenvolver?

Após esse primeiro filtro, imagine agora quem chega à escola pública – ou mesmo na privada. O ensino é bom? A metodologia é eficaz? O que as nossas escolas ensinam é o suficiente? Ao chegar à idade de entrar em uma faculdade, esses jovens estão qualificados?

E nas universidades: Como escolhemos os cursos? O que aprendemos? Ou será que apenas decoramos o conteúdo ensinado?

Então chegamos nas empresas: quantas empresas de fato desenvolvem os seus funcionários? Quantos são os líderes que de fato têm a paixão e o interesse em ver alguém crescer e ganhar vida própria? E os preconceitos que existem na organização? Os critérios de seleção são justos, lógicos e estruturados? Ou são feitos a partir de preferências individuais? Como ser diferente se, na base, só contratam os iguais?

Quais são as competências que os líderes do futuro precisarão possuir?

Precisamos urgentemente compreender e refletir que o maior problema do Brasil não é a infraestrutura, os impostos ou o governo. A causa raiz que antecede absolutamente tudo são as escolhas de pessoas sobre pessoas que de fato transformam e nos impulsionam como sociedade. O restante é uma derivação desse primeiro passo que precisamos adquirir consciência. Toda escolha tem causa e efeito.


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