Os líderes atuais devem estar atentos para o seu entorno; se preocupar com o que dizem e sentem todos aqueles que fazem parte de sua comunidade
Por Luiz Gustavo Mariano
Propósito. Essa palavra virou quase um mantra para as empresas que querem realmente fazer a diferença na vida das pessoas. O propósito pode ser a razão da existência de uma companhia; é a meta que faz com que ela atue de uma maneira que contribua para a sociedade como um todo.
O propósito orienta a empresa e, claro, os funcionários. Nesse sentido, os líderes agora precisam (e são cobrados por isso) se posicionar em relação a temas que estão em pauta.
Li um bom artigo no Valor a respeito desse assunto. O título: “Todo CEO deveria ser um ativista de causas maiores”. A repórter Barbara Bigarelli começa o texto assim:
“A ascensão da agenda ESG tem levado a uma maior cobrança da sociedade e de investidores para CEOs se posicionarem e agirem em prol de causas maiores que os interesses de suas organizações. Mas ser ou não ser um CEO ativista nem deveria mais ser uma dúvida para os executivos”.
Ex-presidente do BNDES, da CSN e da Icatu Seguros, Maria Silvia Bastos diz no artigo que “o ativismo não é um custo para a carreira, mas um enorme benefício. ‘É o que retroalimenta o executivo’”.
Concordo com essa visão. Os líderes não podem mais ficar enclausurados em seus escritórios, pensando apenas nos processos internos e no balanço da empresa, como se a sua organização fosse uma ilha que existe à parte dos problemas e das questões que afetam a cidade ou o país em que atuam.
Os líderes atuais devem estar atentos para o seu entorno; se preocupar com o que dizem e sentem todos aqueles que fazem parte de sua comunidade.
Mas vou além. Essa postura “ativista” não deve ficar restrita aos líderes. Deve estar presente em todos os níveis hierárquicos de uma empresa. Os líderes são, claro, o exemplo, mas eles devem estimular essa atitude nos demais funcionários.
E o que significa ter uma postura ativista? Alguns exemplos: significa estar atento a questões como diversidade, racismo, machismo, homofobia, sustentabilidade, desigualdade.
Ser um líder ativista tem a ver com garantir, com repercussões rigorosas, que nenhuma escolha ou tomada de decisão em relação às pessoas seja feita a partir de vieses preconceituosos ou de preferências individuais que conotem qualquer tipo de discriminação –principalmente nos temas de diversidade racial, social, opção sexual, machismo, homofobia. Serve também em relação a temas como boa governança, pagamento de impostos, ética e padrões de sustentabilidade..
São temas que estão na boca das pessoas, na pauta dos debates. E ser ativista significa não apenas falar que é a favor da diversidade, mas implementar ações para que a diversidade seja efetivamente conquistada. Não pode ficar apenas no discurso.
Volto ao artigo do Valor. “Primeira mulher a presidir o BNDES e a CSN e primeira executiva mulher a vencer o Executivo de Valor (em 2000 e 2001), como a melhor gestora no setor de mineração, siderurgia e metalurgia na escolha dos headhunters, Maria Silvia diz que se sentiu solitária em muitos momentos na carreira. Rodeada de homens, diz que havia uma tendência natural de agir como eles para ganhar espaço e respeito, mas que preferiu fazer do olhar feminino, que considera ser diferente na gestão (em termos de empatia, negociação e aproximação com funcionários), um diferencial.”
Ou seja, Maria Silvia conquistou o seu espaço na marra, superando diversos obstáculos (estruturais, de costumes). Um líder verdadeiramente ativista coloca em prática medidas que eliminam esses obstáculos.