Por André Behs, sócio da Flow Executive Finders
Sabemos das características de volatilidade, mudanças regulatórias e consequente ciclos curtos inerentes ao Brasil e os impactos nos executivos e sua realidade empresarial como um todo, que por sua vez precisam estar preparados para lidar com esses ciclos curtos que contemplam as fases de expansão, crescimento, contração e recessão. Neste momento, o desafio da vez se mostra com a escalada na taxa básica de juros (SELIC) pelo Banco Central, utilizada como mecanismo de contenção da inflação, que atingiu 0,71% em março de acordo com dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), valor que representa o menor patamar desde janeiro de 2021.
Esta movimentação trouxe efeitos colaterais importantes aos bancos como o aumento do custo de captação e, consequentemente, para as empresas, com o aumento do custo da despesa financeira. Neste cenário de incertezas, empresas que fizeram seu dever de casa bem-feito em 2022 e apresentaram resultados operacionais (EBITDA) expressivos, viram seu cash conversion despencar. Algumas delas inclusive, apresentaram prejuízo líquido, o que vem exigindo importante habilidade de muitos CFOs e Tesoureiros para a renegociação de dívidas tanto com bancos, quanto com o mercado de capitais. Somado a esse cenário, o “Case Americanas” ainda trouxe uma insegurança maior aos bancos, especulando-se inclusive uma escassez e crise de crédito no mercado.
Esta curta retrospectiva do trimestre já nos indica que 2023 será desafiador para os principais executivos de crédito e produto dos bancos que, juntamente aos economistas chefe, precisaram – e continuarão precisando – ter a capacidade de antecipar esses movimentos cíclicos macroeconômicos de aumento de taxa de juros, aumento de inflação, taxa de desemprego e conseguir desdobrar em ações, antecipadamente, em premissas internas como modelagem, políticas, score de crédito, de forma que seja possível preservar rentabilidade também em cenários adversos e não apenas crescer quando o mercado cresce, o que é o mais comum.
A realidade é que nem todas as instituições financeiras conseguiram fazer isso, acarretando em um cenário de índices de inadimplência e PDD elevados e, não por coincidência, movimentações importantes e recentes de executivos de crédito em fintechs, bancos, IPs, SCDs, etc.
O perfil “moderno” de crédito, que provavelmente representará grande fatia dessas posições no mercado, é a combinação entre a experiência de crédito (modelagem, políticas, etc) com a visão de produto/negócio elevada, de forma que a tomada de decisão de ponto de corte para concessão, por exemplo, seja pelo P&L e rentabilização do produto e não apenas pelas premissas de perda (inadimplência, PDD, etc) via análise tradicional de crédito, como ainda muito se percebe.
A inflação já deu sinais de enfraquecimento no mês passado, injetando boa dose de otimismo no mercado e alimentando expectativas por corte de juros do Bacen antes do esperado. Novamente, movimentos cíclicos macroeconômicos se avizinham. Os executivos dos players do mercado de serviços financeiros conseguirão, agora, antecipar os mesmos? Cenas dos próximos capítulos…